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Eles nos abrirão as portas dos céus

Eles nos abrirão as portas dos céus

Irmão Simplício, um jovem consagrado da Comunidade Toca de Assis, doou-se totalmente a Deus e aos mais pobres. Em sua missão de levar conforto e o amor de Deus aos marginalizados, foi mais uma vítima do Coronavírus.

Padre Arnaldo Rodrigues – Vatican News

“O vírus, se sabe, atinge todos, sem diferença de nacionalidade nem pertença religiosa ou social, mas são os pobres que pagam e pagarão no futuro o preço mais alto”. (Papa Francisco) 

As palavras do Papa Francisco nos recorda, quase que constantemente, da necessidade de olharmos e sermos solidários com aqueles mais vulneráveis. O convite a caridade,  especialmente neste tempo difícil da Pandemia do Covid-19, ressoa forte e longe como os sinos dos campanários de nossas igrejas. E as respostas de nossas comunidades são sempre imediatas, pois entendem que  “trata-se de uma opção, ou de uma forma especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja. Ela concerne a vida de cada cristão, enquanto deve ser imitação da vida de Cristo”.[1]

Deus em todo o tempos da Igreja, chamou e ainda continua a chamar, por meio de seu Espírito, homens e mulheres que elevaram este primado da caridade até a perfeição, até o consumir-se totalmente dentro desta dinâmica de amor a Deus e ao próximo. Assim foi com Irmão Simplício José do Menino Jesus.

Rodolfo Costa Pimentel, nascido na cidade de Cabo Frio, mas criado na cidade de São Pedro da Aldeia, entrou na Fraternidade Toca de Assis em outubro de 2011 e professou seus votos no dia 13/11/2016, chamando-se desde então de Irmão Simplício.  Sua profissão ocorreu na Igreja de São Francisco de Paula, no Centro do Rio de Janeiro, pelas mãos do Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio.  Ter realizado sua profissão nesta igreja o deixou muito emocionado, pois foi ali que realizou a sua primeira pastoral de rua.

O Prior da comunidade no Rio de Janeiro, Ir. Francisco, informou-nos que Ir. Simplício estava morando na missão em Fortaleza-CE, quando começou a Pandemia do Covid-19. Segundo Ir. Francisco, ele se propôs a ir para a rua para servir aos pobres que estavam ficando em uma situação ainda de mais abandono neste período da pandemia, e assim acabou contraindo o coronavírus. Quando descobriu já estava com a situação da saúde bem comprometida. “Era o irmão mais novo que tínhamos de profissão, ficou vários dias entubado, respirando por aparelhos, teve que fazer hemodiálise e não resistiu” – disse-nos Ir. Francisco. Antes de ficar inconsciente e morrer, deixou um áudio para as pessoas com quem ele estava conversando. Em seu áudio recordou uma bela frase de São Vicente de Paula:

“É um privilégio morrer pela causa dos pobres, pois eles nos abrirão as portas do céu!”

† Irmão Simplício José do Menino Jesus morreu no dia 29/05/2020.

Quando realizou a sua profissão no ano de 2016, Ir. Simplício recordou que quando criança tinha dois sonhos, o de ser coroinha e fazer a primeira comunhão. Realizou os dois aos 8 anos e desde então se dedicou ao serviço da Igreja, especificamente com a liturgia e a assistência aos moradores de rua. “Ainda dentro da minha paróquia, o Senhor já havia me chamado a mostrar aos outros jovens o quanto a nossa liturgia é bela. Conheci a Toca de Assis com 12 anos, mas só pude fazer o vocacional com 15 anos, que era a idade permitida. Eu sempre tive uma aptidão muito grande pela Igreja. Pensava em ser padre, pois não sabia muito bem que era possível ser frei ou ser consagrado. Então quando conheci a vida consagrada, me encantei; e em meio a esse desejo vocacional eu descobri a Fraternidade da Toca de Assis. Ainda fora, acompanhei e vivenciei o carisma porque participava dos eventos, das adorações e das pastorais de rua. Ao completar 18 anos, entrei para a fraternidade” – disse Ir. Simplício (2016)[2].

Ao saber do falecimento deste jovem consagrado, do seu testemunho na Igreja e com os mais necessitados e sobretudo de suas últimas palavras, Dom Orani enviou-nos uma mensagem dizendo que “Ao conhecer o Irmão Simplício, agradeço a Deus pelos grandes exemplos que temos hoje. Peço que cada vez mais estes sinais apareçam na sociedade, apareçam para a Igreja e que possamos agradecer a Deus por estes homens e mulheres que dedicam a sua vida ao Senhor e aos mais necessitados.

São nas palavras do próprio Ir. Simplício, em sua profissão no ano de 2016, que poderíamos resumir de forma muito transparente o nosso chamado por Deus e o modo de como realiza-lo: rezar e servir.  “Deus pedia algo a mais para mim, e esse algo a mais era doar minha vida por inteiro. Eu tinha a necessidade de morar com Jesus, não apenas de ir à Igreja. Então a Toca e a vida consagrada são uma grande realização desse sonho. Morar com Deus, adorar a Jesus no Santíssimo Sacramento e cuidar dos seus pobres nas ruas foi o meu desejo inicial, e é o desejo que quero para sempre. A nossa missão na Toca de Assis é adorar a Jesus e depois chegar ao coração do pobre, que é Ele mesmo disfarçado” – falou Ir. Simplício José do Menino Jesus.

[1] João Paulo II, Carta encicl. Sollicitudo rei socialis, 42: AAS 80 (1988) 572-573; cf. Id., Carta encicl. Evangelium vitae, 32: AAS 87 (1995) 436-437; Id., Carta apost. Tertio millennio adveniente, 51: AAS 87 (1995) 36; Id., Carta apost. Novo millennio ineunte, 49-50: AAS 93 (2001) 302-303.

[2] http://arqrio.org/noticias/detalhes/5169/uma-vida-totalmente-doada-a-deus

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