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Fé e vírus

Fé e vírus

No século XIV, quando o Papa Clemente VI, ocupava a sedia de Pedro; Europa foi açoitada por uma das piores pandemias: “A peste negra”.
O Papa orientou a todos os fiéis da época; até onde podiam chegar às notícias; a evitarem o contato de uns com outros, e a rodear suas residências de piras. As piras são uma espécie de “fornos” crematórios que acesos e com aromas dentro faziam com que o contágio não acontecesse. Tudo isto porque o Papa graças ao excelente médico Guy de Chauiliac tinha recebido medidas preventivas e com elas muitos em Roma a começar pelo Papa se salvaram da peste.

A prevenção é uma forma de cuidar e de amar. Em tempos como os que estamos vivendo algumas pessoas de diferentes denominações religiosas criticam e condenam o fato de que os pastores realizemos certas advertências sobre a situação é tentemos prever sem paranoia; contribuindo para que as pessoas possamos passar estas horas azedas com calma e tranquilidade.
Alguns dizem com veemência que não precisam de prevenção nenhuma, pois “jesus” os ajuda e os sustenta e nenhum mal os atingirá. De fato o mesmo papa Clemente VI teve que enfrentar a seita dos flagelantes que por motivo da peste se negaram a seguir as suas recomendações e só flagelavam o corpo e rezavam para obter a cura. Dolorosa atitude mas ainda temos bom número de flagelantes.

O papa Francisco (século XXI) tem sido alvo de críticas mordazes até de purpurados e clérigos pelo fato de ter seguido as indicações dadas pela vigilância sanitária e ministério da saúde Italiana. Celebrar a missa a porta fechada e sozinho na casa de santa Marta. Realizar as audiências públicas pela TV e pelas redes sociais.

Recebi inúmeras críticas pelo fato de seguir as indicações de pedir para os fiéis receberem a comunhão na mão e não na boca. Alguns exigem este direito e não aceitam tese que possa ser intelectualmente aceitável. Tenho lido mensagens de quem diz “cadê os pastores no meio do seu povo???” .

Prever é sinônimo de cuidar e amar.
O pastor é chamado a dar a vida pelas ovelhas. Em nenhum momento temos negado uma visita a um doente, celebramos os sacramentos e prestamos ajuda aos necessitados sem colocar obstáculo nenhum; só estamos sendo prudentes. Tenho plena certeza de que se pelo fato do corona vírus se estender e chegar a limites inesperados muitos pastores, sacerdotes e missionários serão capazes de dar e doar a sua vida pelos irmãos e irmãs; só que a prevenção é um gesto do exercício da virtude da prudência.

Ter igrejas fechadas não é uma oportunidade valiosíssima para pensar: “E quando elas estão abertas quem está dentro delas?”. Ficar um pouco mais recolhidos não é uma excelente oportunidade para meditar no silêncio do Cristo que vive a paixão e morte para logo Ressuscitar.

Tempo de graça e benção este da prevenção. Muitas vezes nossa alma corre grandes riscos, perigos e sucumbimos ao pecado; pois nós lançamos pelo mundo como se fôssemos capazes de vencer todas as provações.

Tempo de graça e de humilde atitude ao ver que um mosquito desencadeia a dengue e um vírus desencadeia o caos. Tempo de renovar nossa entrega a quem nos criou.
Que a fé seja um vírus que nos contamina a todos para responder aos apelos do Senhor e que não se converta numa fórmula mágica para evitar catástrofes: A porta da Fé que se abre para termos acesso ao cuidado com a vida do planeta e dos irmãos.

 

Padre José Rafael Solano Duran.
Sacerdote da Arquidiocese de Londrina.

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