Nesta quarta feira, junto com a Pastoral Familiar da nossa Catedral de Londrina, oferecemos um momento de profunda ação de graças por todos os casais.
Quero nessa homilia – já que muitos de nós não tivemos a oportunidade de estar fisicamente em Lisboa, na Jornada Mundial da Juventude – dar destaque às palavras do amado Papa Francisco:
“Todos! Todos! Todos os casais têm direito de fazer parte da Igreja.”
Todos! Todos! Todos os casais deveriam encontrar na Igreja braços abertos.
A Igreja não é uma alfandega.
A Igreja não é um pedágio.
A Igreja não é um espaço formado por muros.
É na Igreja que podemos dialogar sobre o dom inestimável e inabalável da família. Para isso precisamos ouvir os casais, precisamos acompanhá-los, discernir e, sobretudo, precisamos caminhar com os novos casais.
Todos! Todos! Todos os casais devem ser ouvidos.
A Palavra de Deus na Primeira Leitura finaliza um dos processos mais belos de todo o Primeiro Testamento: a vida do patriarca Moisés. Quando as suas forças já quase estavam no chão, Moisés só contemplou a terra prometida.
A vida conjugal é uma terra prometida.
O matrimônio não é sorte.
O matrimônio não é azar.
O matrimônio é o encontro de duas pessoas que amadureceram no amor e perceberam a necessidade de estabelecer um vínculo sagrado.
Por isso, saibam todos os casais que lutam pelo seu casamento: o amor de Deus os sustenta, o amor de Deus os fortalece e o amor de Deus lhes dá a graça de permanecerem unidos para sempre.
Há outros casais que por algum motivo não conseguiram manter a primeira união: Paciência! Paciência!
Há matrimônios que não deram certo desde o primeiro dia: antes de se culpabilizar, antes de se negar como homem ou mulher, avalie a graça que o seu coração hoje está vivendo.
Não podemos continuar utilizando essa expressão tão agressiva: o desquite. Desquite não é uma palavra cristã. Desquite significa vingança. Se você não conseguiu perdoar no primeiro casamento, nos próximos relacionamentos talvez seja ainda mais difícil e doloroso.
Tem muita gente sofrendo espiritual, psicológica, anímica e moralmente.
Vocês casais que por alguma razão não têm lugar em outros ambientes: na Igreja vocês têm lugar no coração das pessoas.
Àqueles que choram conosco, que sofrem como filhos e filhas de casamentos que não deram certo. Por favor, não é uma desgraça, não é uma má sorte para a vida, não é e nunca será uma maldição: jamais! Voce continua sendo abençoado, amado e especialmente abraçado por Jesus.
Há, ainda, pessoas que não casaram, mas têm os seus namoros e relacionamentos muitas vezes escondidos. Deve ser chatíssimo namorar e expressar o que sente escondido. Às vezes levando uma vida dupla.
Façamos dos nossos relacionamentos familiares espaços de paz, espaços de comunhão e essencialmente espaços de encontro com Deus.
O Senhor nos chama, nesse dia, para que façamos uma experiência transcendental, a correção fraterna. Procuremos uma boa e alicerçada direção espiritual, pessoas especializadas que podem nos ajudar a encontrar um novo caminho nas nossas vidas.
Discernir, acompanhar e dialogar em cada casa, em cada lar.
E, como na música*, termino também dizendo que venderia tudo o que tenho hoje para voltar ao meu lar. Ali onde eu nasci. Daria a vida se fosse necessário e não teria nenhum remorso em dizer como eu gostaria de voltar à minha casa, ao meu ninho, ao meu espaço.
Já que a imensa maioria das pessoas que estão aqui tem a sua casa por perto, vou lhes dar um conselho do querido São João XXIII: “Ao voltar para casa, beije as pessoas que ali estão e não tenha nenhum reparo em dizer a essas pessoas: ‘você faz parte da minha história da salvação'”.
Que cada casal aqui presente seja abençoado pelas queridas palavras do papa Francisco:
“Todos os casais têm lugar preparado aqui na Igreja.”
Amém.
Padre Rafael Solano
cura da Catedral Metropolitana de Londrina
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* (música: É Bom Ter Família, Padre Antônio Maria)
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LITURGIA 16.08.2023
19ª SEMANA DO TEMPO COMUM
Primeira Leitura: Deuteronômio 34,1-12
Salmo Responsorial: 65(66)
Evangelho: Mateus 18,15-20